Poesias

Esperar...

Como espero por ti, felicidade!
E há quanto, ó esperada, não me escutas!
Acaso te envergonha a minha tenda?
Ou não gostas de andar por onde eu ando?

Clamo por ti o dia todo. Chamo.
não apenas  com a água destes olhos,
mas pelos gritos do meu pensamento,
pelas batidas do meu coração.

Porém que passas por alguma porta
eu sei que passas, pois alguém me disse
haver teu rastro pela vizinhança...

Sei também que esperar, às vezes, dói.
Contudo, não há nisso todo o mal;
- não se pode é não ter o que esperar!

Em Água da Fonte. 

Alma

Alma de viajor de mil viagens,
sigo, num sonho, naves andarilhas
que se esfumam nas líricas paisagens
de angras azuis e solitárias ilhas.

São-me errantes e tristes as imagens...
A lembrança das velas e das quilhas
formam golfos e idílicas paisagens
e enchem-me os olhos de asas e de milhas:

Asas - quem sabe? - para as minhas ânsias;
milhas para eu sentir o Inalcançado,
no meu roteiro feito de distâncias,

mas onde eu cante sob um céu mirífico
e sonhe um porto virgem, mergulhado
numa doçura de ilha do Pacífico...

Em Água da Fonte.

 Poeta e Lua

Há quem chame as estrelas de velório
de noite escura, ou seja o dia morto.
A terra, à luz dos astros, me parece
uma cega perdida no Universo.

Porém a lua (a meia-luz dos poetas)
mostra caminhos, vultos de montanhas,
pinta de prata os rios sonolentos,
até que venha, rubra, a madrugada.

Homens gastaram muito mais de um século
só a pensar em por os pés na lua,
entre insônias e cálculo sem fim!

Bem mais felizes somos nós, poetas:
a lua, maternal, nos desce à alma
e acorda o poema em nosso coração...

Em Água da Fonte.

Eternidade

No começo, era simples brincadeira.
Mas foi crescendo pelo tempo em fora.
Se já deu sombra pela vida inteira,
como tem fruto e ritmos agora!

Creio que te falaram, companheira,
de uma árvore humaníssima e canora,
dessas que se debruçam, sem canseira,
sobre o perdido viajor que chora...

Hoje, eu te falo deste amor que, um dia,
sem reticências e sem falsos brilhos,
nasceu da nossa mútua simpatia.

Ele, decerto, pelos tempos há de
guardar, na morte, para os nossos filhos,
a sombra da ternura e da saudade...

Em Água da Fonte.





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