quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Jáder de Carvalho: "Um poéta dynamico"

A segunda edição de Maracajá traz para nós, jaderianos convictos, dois grandes regalos.
O primeiro, uma poesia de Fernando Ricardo dedicada ao nosso escritor - uma demonstração de admiração ao nosso poeta - e o segundo, a revelação de uma outra temática presente na obra de Jáder de Carvalho.





                    Festa na fazenda

                                         A Jader de Carvalho

<< Ê  bambú, ê bambá
Vae ver a espingarda
Pra matar o mangagá...

E a festa ronca na fazenda...

Rola no ar o fartum dos seios bronzeados,
Dos seios exhuberantes,
Das caboclas suadas...

Ati-chim!... ati-chim!...

Lá fora os pyrillampos,                     
Quaes minusculos aerolithos, 
Fazem a ronda luminosa
Nas moutas de mofumbos...
                                                                     
E na porta da casa da fazenda,
Um poéta dynamico,
Um poéta modernista,
Diz que naquelas caboclas 
Está a promessa de uma raça nova...

<< Ê bambú, ê bambá
Quem é que suporta o cheiro
Do besouro mangangá?...>>

Fernando Ricardo.


A homenagem nos diz muito mais do que somente a admiração que nosso escritor suscita em um de seus colegas, nos apresenta uma outra temática recorrente na poesia jaderiana. Dinâmico não somente em relação a todas as atividades que exerceu (poeta, jornalista, romancista, professor), Jáder de Carvalho expõe em sua obra uma dinamicidade de temas que nos permite classificá-lo como um poeta completo. Ao lado de sua crítica ferrenha à política, de seu saudosismo, de sua poesia engajadamente social, de seu telurismo, há também espaço para uma poesia cantada para as musas, em uma exaltação à mulher sertaneja: uma mulher ao mesmo tempo sensual e pura. 


O homem que despe as mulheres...

   
Eu não gosto de mulher núa
Isto é:
Eu não gosto dessas meninas que se despem com as proprias mãos,
Para o goso efêmero dos passantes.

Eu gosto de mulher
Quando eu mesmo lhe arranco até a camisa, com o cheiro das pomas invioladas.

Si eu mandasse no Brasil,
As mulheres andariam vestidas
Para que todos os homens que pensam como eu
Lhes despissem as roupas e fizessem florescer, num beijo,
As rosas que os romanticos tiram ás escondidas!

Morenas do Brasil!
Morenas do Ceará!
Escondam os seios! Esperem pelo descobridor dessa terra jovem!
Não seria tão lindo si vocês
-s-e-m-p-r-e-!-
Nos dessem a sensação de descoberta?

Jader de Carvalho.



Nos dois poemas de Jáder de Carvalho presentes na segunda edição do Maracajá, somos apresentados à temática do feminino em seus primeiros escritos. O primeiro desses poemas, "Na praia natal ficou a palmeira...", já foi tema de nossa última postagem (confira em http://sertaopoesia.blogspot.com.br/2013/02/jader-canta-as-mulheres-da-literatura.html) e mostrou Jáder enaltecendo Iracema, uma das grandes personagens femininas da literatura cearense. 
Neste segundo poema,  vemos o poeta cantando as suas "morenas do Ceará" e evocando sensualidade. No entanto, ao lado de todo o tom lascivo e das imagens metafóricas presentes nessa poesia, o poeta deseja que as mulheres sejam mais recatadas e passivas diante do homem "descobridor dessa terra jovem". 
A temática do feminino, mostrada aqui ainda nos primeiros textos de nosso escritor, será recorrente ao longo de sua trajetória poética, seja em um tom mais sensual ou mais social. O que fica para nós, leitores, é mais uma faceta de Jáder de Carvalho a ser apreciada. 








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